Black Acid Soul: A intimidade do jazz com a força da música soul

Fernando Marques
Por
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Lady Blackbird - Black Acid Soul
Lady Blackbird - Black Acid Soul

Black Acid Soul é um álbum que tem tanto de intemporal como de transformador. A estreia de Marley Munroe, que nos chega da cidade norte-americana de Los Angeles e adotou o nome artístico de Lady Blackbird, reinventa e revitaliza o jazz, o blues e o soul com uma autenticidade e vulnerabilidade que tornam o título do álbum um adequado eufemismo.



O disco é uma viagem atmosférica, construída em torno de uma instrumentação esparsa, mas exuberante, que permite que a voz de Lady Blackbird ocupe o centro do palco. A sua voz poderosa e crua, evoca lendas do jazz como Billie Holiday e Nina Simone, com um filtro contemporâneo. Há um toque de neo-soul, com produção moderna, mas a essência da música permanece na tradição do soul clássico - uma ressonância emocional profunda em cada nota.


Lady Blackbird
Lady Blackbird


Abrindo com “Blackbird”, um cover do hino dos direitos civis de Nina Simone, Lady Blackbird traz a sua própria urgência ao tema, tornando-o menos um cover e mais uma reinterpretação. É um início arrojado, que define o tom para o resto do álbum: uma declaração de resiliência, amor e identidade. Os arranjos são simples mas profundamente eficazes, apoiando-se em poucos acordes de piano, linhas de baixo subtis e percussão que nunca se sobrepõe à sua narrativa vocal.


Outros temas de destaque incluem “It'll Never Happen Again”, em que a intensidade controlada da sua voz capta a dor do amor e do arrependimento, e “Collage”, uma faixa assombrosa que evoca estados de espírito introspectivos e letras sombrias. Cada canção flui naturalmente para a seguinte, criando uma experiência imersiva como se estivéssemos num clube de jazz com fumo e pouca luz, onde o tempo parou.


Lady Blackbird
Lady Blackbird


O que torna Black Acid Soul especialmente impactante é o seu exercício de contenção. A produção - a cargo do produtor nomeado para um Grammy, Chris Seefried - evita a grandiosidade da pop moderna ou da fusão de jazz, optando pelo minimalismo. Esta abordagem despojada enfatiza a capacidade vocal e a narrativa de Lady Blackbird, resultando num disco que parece íntimo e cinematográfico ao mesmo tempo.


Black Acid Soul é um lembrete do poder duradouro do género e uma estreia surpreendente para Lady Blackbird. Com este álbum, Munroe não só se apresenta como uma portadora do legado do jazz e da soul, mas também como uma artista sem medo de traçar o seu caminho, deixando os ouvintes ansiosos por ouvir o que nos vai trazer a seguir.


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