Há
dias, no contexto da gravação de mais um episódio do
podcast Música & Som, dei comigo a ir procurar um disco do Joe
Jackson, I’m The Man, e apercebi-me que a sua data de lançamento, ao
contrário do que eu me
lembrava, era 1979. Mais uma confirmação de que aquilo a que chamamos
hoje “música
dos anos 80” começou efetivamente no último ano da década de 70 do
século
passado.(1)
Esta não é uma constatação nova. Li há bastantes anos a defesa desta tese, tendo como ponto de partida o facto de London Calling, o álbum duplo dos The Clash, ter sido lançado, precisamente, em 1979. Mas, até hoje, nunca me tinha dado conta da quantidade de obras editadas nesse ano e que identificamos hoje, sem sombra de dúvida, como “música dos anos 80”.
O website albumoftheyear.org é um excelente ponto de partida
para esta descoberta. Basta apontar o browser para o ano em causa e preparar-nos
para ficar de queixo caído.
O primeiro LP dos B-52’s? Lançado em 1979. Three Imaginary Boys, o álbum duplo dos The Cure – que inclui o seminal Boys Don’t Cry – chegou às lojas no dia 11 de maio de 1979.
E 1979 foi também o ano do lançamento de Fear of Music, dos
Talking Heads; de Reggatta de Blanc, o segundo álbum dos Police (que inclui
Message in a Bottle); e dos álbuns homónimos de Rita Lee, dos Pretenders(2) e dos
The Specials. One Step Beyond..., dos Madness? Também foi publicado em 1979.
Communiqué, dos Dire Straits seria publicado a 5 de junho de
1979. Eat to the Beat, o quarto álbum de estúdio dos Blondie, chegaria a 28 de setembro
do mesmo ano. E sim, até Highway to Hell, dos AC/DC é um álbum de 1979…
Cool for Cats, dos Squeeze? Lançado a 9 de abril de 1979. E
a 11 de junho seria a vez de Get the Knack, dos The Knack – sim, os mesmos de
My Sharona.
Ah… O segundo álbum de Prince? Chegou a 19 de outubro deste
prolífico ano, embora aqui possamos certamente argumentar que “o som” do
artista de Minneapolis só se identificaria como “dos anos 80” um pouco mais
tarde, com 1999 (1982) e, sobretudo, Purple Rain (1984).
O início dos 80 e o final dos 70
O incrível desta lista é que está longe de ser completa. Os
interessados poderão explorar aqui todos os principais LPs lançados neste incrível ano e, até, encontrar álbuns
relevantes aos quais eu não dei aqui importância.
Por exemplo, The Wall, dos Pink Floyd, é também de 79, mas a
banda de Roger Waters e companhia dificilmente se poderá colocar como uma das
que criou o “som dos anos 80”! É igualmente o que acontece com In Through the Out Door, dos Led Zeppelin, outro importante disco lançado em 1979, mas que
nada tem a ver com a discussão deste artigo. E o mesmo se pode dizer de Tusk,
dos Fleetwood Mac.
E a ideia aqui é mesmo salientar que muito do que
consideramos “música dos anos 80” e o tipo de sonoridade que a frase nos evoca,
começou com discos de 1979, LPs de bandas e artistas como The Police,
Pretenders, Madness, Squeeze, Rita Lee, The Cure, B-52’s, Dire Straits…
Por outro lado, este também foi o ano em que assistimos ao “encerramento”
dos anos 70, através de alguns lançamentos emblemáticos. É o caso de Voulez-Vous,
o último álbum dos Abba, mas também de discos que representam o culminar da era
“disco”, como Bad Girls, de Donna Summer, The Boss, de Diana Ross, ou mesmo Discovery,
dos ELO.
Já o disco de Michael Jackson deste ano, Off The Wall, pode
considerar-se como um álbum de transição entre o som destas duas décadas,
encerrando uma fase da carreira do artista e antecipando a seguinte. E o mesmo
podemos dizer de Mouth to Mouth, o disco dos Lipps Inc. que inclui Funkytown,
um dos temas que anunciou o fim do “disco” e a entrada numa nova era musical.
No entanto, seria preciso esperar pelo dia 10 de janeiro de
1980 para encontrar o LP do “arranque oficial” da década, com honras de conter igualmente
o single, e o primeiro teledisco, a ser transmitido pela MTV: The Age ofPlastic, dos The Buggles, e Video Killed The Radio Star. Mas isso já será
história para um novo artigo!
Entretanto, os mais curiosos poderão explorar a lista
completa dos lançamentos de 1979 aqui, bem como a uma playlist do Spotify com
todos os discos aqui referidos, aqui.
Deixo-vos uma pergunta para responderem nos comentários: qual o vosso álbum preferido de 1979? É que o meu não é nenhum dos que referi acima, e nem sequer é um álbum. É isto:
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(1) Para quem gosta destes preciosismos: sim, eu sei que as décadas começam em 1 e terminam em 0 (porque não houve “ano zero”) e, como tal, 1979 não é o “último” ano da década, mas sim o penúltimo… Mas vocês sabem onde quero chegar, certo?!
(2) Este álbum surge em vários sítios, incluindo no Spotify, como sendo de 1980, mas a data oficial do seu lançamento é 27 de dezembro de 1979.