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Ryuichi Sakamoto |
No dia em que se cumpre um ano da sua morte, a Midas Filmes estreia Ryuichi Sakamoto | Opus, o último concerto que o lendário compositor quis deixar ao mundo, já estreado nos festivais de Veneza e Nova Iorque. Um filme único e comovente. Uma celebração da vida de um verdadeiro artista, Ryuichi Sakamoto | Opus é o canto definitivo do cisne do querido mestre.
A 28 de março de 2023, o compositor Ryuichi Sakamoto morreu depois de uma batalha contra o cancro. Nos anos que antecederam a sua morte, Sakamoto não pôde tocar ao vivo. Tanto os concertos como as longas digressões mundiais eram demasiado desgastantes. Apesar disso, no final de 2022, Sakamoto reuniu todas as suas forças para deixar ao mundo um último concerto: apenas ele e o seu piano. Com curadoria do próprio Sakamoto, as vinte peças escolhidas narram sem palavras a sua vida através da música. A selecção abrange toda a sua carreira, do período da Yellow Magic Orchestra às magníficas bandas-sonoras de filmes ou ao seu álbum mais meditativo, 12. Filmado num espaço íntimo que conhecia bem e rodeado pelos seus colaboradores de confiança, Sakamoto revela a sua alma através da sua música, sabendo que é a última vez que apresenta a sua arte.
«Ryuichi Sakamoto quis registar em filme uma última performance solitária, ao piano, antes de morrer, e pediu ao filho, Neo Sora, de 33 anos, para o realizar. O resultado é “Opus” que estreará nas salas portuguesas na quinta, 28 de Março, um ano exato depois da sua morte, e que tive ontem oportunidade de visionar.
É um ritual de despedida, como Bowie fez há anos. O contexto está sempre lá. Sabemos que a interpretação daquelas 20 composições foi captada seis meses antes da sua morte, num último gesto de generosidade. Pressente-se o corpo já debilitado, o esforço, mas também a emoção púdica, controlada, com a vertente estética a sublinhar a intimidade da ocasião, num rigoroso e elegante preto-e-branco, captando o tocar gentil do piano. Às tantas ouvimo-lo dizer, exausto: “Preciso de um intervalo. Isto é duro. Estou a dar o máximo.” E pouco mais.
As experiências serão múltiplas. Haverá pessoas que, talvez, saiam a meio, porque o quase silêncio, não conforta, confronta. No meu caso, emocionei-me deveras. Não é só a vida de Sakamoto que passa por entre aquelas notas, os gestos mínimos, a geometria do cenário, a paz com que tudo flui, apesar da omnipresença da morte, podem ser também partes de nós que, de forma ressonante, desfilam à nossa frente.
É paradoxalmente, dependendo dos olhos que o vêm, um documento pesaroso ou com horizonte. Para mim, foi sem dúvida a segunda opção. Vi um ser humano, um artista, que tentou comunicar universalidade sem prescindir da sua individualidade, sendo ao mesmo tempo muito lúcido de si, dos outros, e da realidade à volta, e que morreu em serenidade, até onde isso é possível, já não apenas consciente intelectualmente de que o seu corpo era natureza, o que é relativamente simples de conceptualizar, mas aceitando e sentindo-se natureza. Foi uma boa viagem a de Mr. Sakamoto. » Vítor Belanciano.