Para muitos entusiastas de alta fidelidade a melhor forma de apreciar a música no formato em vinil será apenas com amplificação a válvulas. Para outros poderá ser ainda com amplificadores de transístores em Classe A, com os adeptos tanto de uma, como da outra, a olharem de soslaio para a alternativa em Classe D.
É um erro comum chamar à amplificação em Classe D de digital, uma vez que a maioria dos circuitos de amplificação é estritamente analógica. O que acontece é que são criados impulsos de corrente DC (pulse width modulation, ou PWM) numa frequência muito elevada, normalmente acima dos 100 KHz. Esta por sua vez ao passar nos transístores de amplificação, mediante a utilização de uma fonte de alimentação comutada (semelhante às utilizadas nos computadores domésticos), cria uma grande potência de saída. Esta é a forma mais eficaz de utilizar esta topologia, pelo que se consegue uma eficiência na ordem dos noventa por cento. No entanto, até há poucos anos, não era uma tecnologia que marcas com aspirações audiófilas utilizassem por causa da distorção criada devido à suscetibilidade a interferências de ondas de rádio que têm de ser filtradas.
A HiFi Rose é uma marca de alta-fidelidade sul-coreana, que começou por nos mostrar que o streaming de música digital além da experiência auditiva, pode ser também tátil, e reconfortante. Captou a atenção do público através dos seus streamers com grandes ecrãs sensíveis ao toque, e onde é possível visualizar as capas dos álbuns, bem como informação do tema que se está a ouvir.
HiFi Rose RA 180 |
Com a pretensão de captar agora a atenção dos audiófilos, no primeiro amplificador da marca, é possível identificar uma vaga inspiração no design e na qualidade de construção do fabricante Suíço Nagra. Sobretudo quando vemos os pequenos vuímetros redondos, mas a inspiração termina aí, pois os produtos da marca transalpina têm uma estética mais minimalista.
Na frente do RA 180, há 17 botões: comutadores, controlos rotativos, e até um regulador de balanço deslizante
Os apreciadores de equipamento hi-fi vintage vão certamente adorar a frente do RA 180, que dispõe nada menos do que 17 botões, variando entre comutadores que ativam ou desativam funções, controlos rotativos, e até um regulador de balanço deslizante. Através de uma janela hexagonal transparente e iluminada, é possível ver o intricado mecanismo de rodas dentadas associado ao controlo de volume. Tem um design "esqueletizado", que certamente agradará aos fãs de alta-relojoaria.
HiFi Rose RA 180 |
O que existe no "coração" do RA 180 são quatro módulos de amplificação mono com tecnologia propeietária de Classe D, cujos transístores utilizam GaN (nítrido de gálio), que possui uma velocidade de comutação muito superior ao silício (MOSFETs), melhorando assim a linearidade. Os responsáveis pelo seu desenvolvimento ficaram tão impressionados com o desempenho que decidiram chamar Classe A/D ao modo como funciona. A tecnologia promete níveis de distorção equiparados aos da Classe A, com a eficiência da Classe D. De resto, não tem DAC, nem faz streaming.
Se a parte da frente impressiona, a traseira pode ser intimidante até para os audiófilos mais experientes. Aqui, a consulta do manual é aconselhada pois além de uma entrada de linha XLR balanceada, três entradas de linha RCA, uma entrada para gira-discos (phono), e uma saída para subwoofer, existem ainda oito pares de bornes, que permitem ligar até dois pares de colunas em stereo (A ou B), embora não ao mesmo tempo.
HiFi Rose RA 180 |
A forma mais simples de usar o RA 180 será em BTL (Bridge Tied Loads), ou ponte, que combina os quatro módulos de amplificação em dois pares para entregar 400 watt por canal a 8 Ohms. Com toda esta potência disponível, nem as colunas mais difíceis de alimentar deverão ser um problema. No entanto, caso tenha umas colunas que possam ser bi-amplificadas, configurados desta forma, os módulos de amplificação trabalham em pares para fornecer 4x200 watt. É possível ainda optar por utilizar o filtro divisor de altas frequências, que é uma espécie de crossover ativo cujo controlo está disponível na frente do amplificador. Permite um controlo fino da gama entre os 600 Hz e os 6,000 Hz e será também bastante útil para quem pretenda ligar um par de super-tweeters e assim controlar as frequências a reproduzir.
A utilização do RA 180 é uma delícia para quem aprecia a sólida resposta à utilização dos seus controlos. O controlo remoto em alumínio evita o incómodo de estar sempre a levantar-se do sofá, sendo ainda possível também controlar o nível de volume e selecionar a fonte através da aplicação para smartphone que funciona por wi-fi.
O som do RA 180 é luxurioso, com muita informação e detalhe em toda a gama de frequências
Ligado a umas colunas Kef LS50 Meta em modo bridge, ouvimos primeiro alguns temas provenientes de fontes digitais, tanto por meio de streaming, como a partir de CD. O primeiro impacto é impressionante, somos banhados com um som luxurioso, com muita informação e detalhe em toda a gama de frequências. No entanto, o que inicialmente foi uma característica boa, ao fim de umas horas foi-se tornando algo fatigante pois a exibição do detalhe e informação contida na música começava a tornar-se analítica. Isto verificava-se mais com as gravações de alguns temas do que com outros, o que nos levou a ativar uma função que, mesmo quando existe, nunca utilizamos: o controlo de tonalidade.
HiFi Rose RA 180 |
Não há duas gravações iguais, por isso, recorremos à função que permite equilibrar as frequências a gosto em cada álbum que ouvimos, com excelentes resultados. A HiFi Rose pretende com o RA 180 oferecer o máximo de versatilidade a quem quer ouvir música, e por isso, os controlos de tonalidade estão lá para serem usados. As Kef LS50 Meta são umas colunas capazes de uma apresentação com um corpo muito além do seu diminuto tamanho. Conseguem reproduzir um grave profundo, uma gama média clara e agudos delicados, mas, com uma sensibilidade de apenas 85 dB, são exigentes com a amplificação para que nos possam dar a sua melhor "atuação". O maestro RA 180 não teve problema nenhum em conduzir as Kef LS50 Meta. Autoritário no grave, foi capaz de apresentar o tema "Billie Bossa Nova", do álbum Happier Than Ever de Billie Eilish de forma inteligível, revelando as nuances entre a voz delicada e lânguida de Eilish, e o grave texturado que enquadra o tema.
Versatilidade é a palavra de ordem: o RA 180 contempla células de imã móvel (MM), e bobina móvel (MC)
Com uma clara piscadela de olho à nova geração que tem vindo a escolher o vinil como meio para ouvir música, mas sem esquecer os audiófilos veteranos, a HiFi Rose equipou o RA 180 com um amplificador de gira-discos dedicado. Mais uma vez, a versatilidade é a palavra de ordem: além de contemplar células de imã móvel (MM), e bobina móvel (MC), tem também a possibilidade de se poder escolher qual a curva de igualização RIAA que foi utilizada na gravação. Para nós fazia mais sentido se permitisse regular a impedância de entrada para células MC, como a Ortofon Quintet Bronze que temos instalada no gira-discos Pro-Ject Cassic Evo. Inserida na gama acessível de células MC da Ortofon, a Quintet Bronze produz um som encorpado, mas rico no micro-detalhe e um palco sonoro profundo.
HiFi Rose RA 180 |
O RA 180 respeitou estas características e amplificou-as de forma que durante a audição com discos de vinil nunca sentimos necessidade de usar os controlos de tonalidade. Com este suporte, a música fluiu naturalmente, sem se dar conta. O disco "Blue Maqams" do músico e compositor tunisino Anouar Brahem é uma obra-prima do princípio ao fim, no entanto tem momentos em que a genialidade dos três músicos, que dialogam entre si apenas com os seus instrumentos nos consegue transmitir uma experiência quase fora do corpo. A excelente gravação da editora ECM é profundamente respeitada pela forma como o RA 180 nos apresenta um palco sonoro com profundidade muito além das colunas, com uma reprodução fiel do timbre e textura dos instrumentos.
Claro que de seguida só nos apeteceu ouvir de novo toda a nossa coleção de discos, e os clássicos não poderiam faltar, como o "Kind of Blue" de Miles Davis, ou "Jazz at the Pawnshop", a famosa gravação ao vivo num clube em Estocolmo. Será um paradoxo, termos descoberto um amplificador Classe D com o qual gostámos mais de ouvir música em vinil? Talvez, mas só parámos de ouvir discos com o RA 180 porque tivemos de o devolver ao importador.
Preço Amplificador integrado HiFi Rose RA 180: 6 999 euros Ajasom